PRISIONEIRO DO TEMPO, © 2007

Por vezes, na ânsia de pautar o que me invade a alma,

Chego a tropeçar na própria lógica dos pensamentos,

E a discordância ortográfica prega-me algumas partidas.

Essa euforia atropela-me na passadeira das ideias.

Neste próprio momento em que escrevo, já me perdi,

E o sentido que queria dar aos pensamentos desvia-se,

A ponto de se dirigirem em sentido contrário,

Voltando-se contra mim, como filhos inimigos

Que se unem para fazer frente ao seu próprio pai.

Esta caminhada cansa-me e anula-me,

Como se cada palavra, em vez de ser um alívio,

Se tornasse um fardo, um labirinto sem fim,

Onde a saída se esconde nas sombras do que já não sou.

E, assim, sigo nessa batalha interna,

Tentando domar a tempestade dentro de mim,

Mas a cada passo, a cada frase,

Sinto-me mais distante da clareza que busco,

Mais perdido na selva dos pensamentos,

Onde a razão se dissolve e a emoção se rebela,

Deixando-me à mercê de um caos silencioso,

Que consome a energia que resta em mim.

Nesta luta, as palavras tornam-se espadas,

Que cortam não só o papel, mas também a alma,

E, no final, tudo o que resta é a exaustão,

O cansaço de quem tentou, mas não venceu,

De quem caminhou, mas se perdeu no caminho,

E agora só deseja um momento de paz,

Um instante de silêncio, onde possa encontrar-se

E, talvez, redescobrir a harmonia que um dia conheceu.