PRISIONEIRO DO TEMPO, © 2007

Sonho um dia ao acordar,

Ser eterno enclausurado,

Na biblioteca universal, a minha casa,

Com os livros como familiares lendários,

Criarei também os meus, na mesma condição,

Para serem a voz de uma belíssima canção.

Nesse sonho, os meus pensamentos e ideias,

Descem ao ritmo do som da carroça,

Na calçada da minha aldeia,

A urna a passar, com os poemas a martelarem

No sino da igreja, numa tentativa audaciosa,

De uma mão suprema abrir as portas do paraíso,

Mesmo sendo chata, insistente e curiosa.

Sabendo que nem sempre tive o perfeito juízo,

Mas ainda assim, insistem, com fervor,

Não que precise de um advogado,

Mas para que, na estante da nação,

Seja um são fado, um canto sagrado,

Que ecoe como prece, em tom elevado.

E assim, na eternidade dos versos,

Serei lembrado, não só pelo que fiz,

Mas pelo sonho que se transformou em canção,

Um fado cantado, um eco eterno,

Nas prateleiras do tempo, na alma da nação.