PRISIONEIRO DO TEMPO, © 2007
Sentem-me em frente a um piano,
Tapem-me os olhos para não chorar,
Deixem que as teclas, como almas antigas,
Gemam por fim o que de melhor em mim
Se escondeu, nas profundezas do ser.
Cada nota é um grito abafado,
Cada acorde, um lamento esquecido,
E nesse engano de vida que vivi,
Encontro a capacidade de criar,
Mesmo que tardia, mesmo que dorida.
Os dedos tocam o marfim como quem busca,
Nas sombras, uma luz perdida,
E o som que emerge, como um eco distante,
Revela a alma que se escondeu,
Por medo, por cansaço, por desilusão.
Mas agora, com os olhos tapados,
Sem ver, apenas sentindo,
Deixo que a música seja a minha voz,
Que ela expresse o que as palavras não alcançam,
E que, por fim, revele o que de melhor
Ainda resta em mim, neste engano de existir.
O piano é o meu confidente,
Minhas lágrimas, suas notas tristes,
E enquanto toco, descubro que criar
É, talvez, a única verdade
Que jamais me deixou, mesmo quando
A vida tentou silenciar o meu ser.