ÚLTIMO CICLO © 2008
Faz calor nestes dias de chuva intensa,
O povo corre num ritmo que não cessa,
Lado a lado, os candongueiros em crença,
A ganhar os Kwanzas, num vai e vem com pressa.
O cobrador amado, a voz que ecoa ao longe,
"Maianga, Maianga!", no carinho do tom,
Anda, mana, sobe, paizinho, responde,
Sem zanga, mas com ternura, num só som.
Na paragem, a rotina que não muda,
Sai um, entra outro, num ciclo a girar,
"Vamos a cobrar, à frente o troco aguda",
Enquanto a música faz o coração pulsar.
Kizomba e kuduro, em batidas a explodir,
Os graves nos ouvidos, um ritmo sem fim,
"Baixa o som, estou a telefonar, a insistir",
Mas o mundo segue, de canto em canto, assim.
"Me liga, não tenho saldo", a frase repetida,
Eco de anúncio, na boca de toda a gente,
É o calor da vida, em oferta sentida,
A voz do povo, sempre firme, sempre presente.