ÚLTIMO CICLO © 2008

Angustiado é o momento, na indiferença gelada,

Do bem-amado que caminha, sem olhar de lado.

À janela, escondido por trás da cortina,

Um tesouro palpita, numa ânsia menina.

O coração acelerado, ilusão fervente,

Ignora o futuro, sem pressa iminente.

Sonha em ser mulher, digna de amar,

Esposa, amante, com o tempo a revirar.

Mas o destino tem faces, duplas e cruéis,

Fugitiva diurna, entre véus e anéis.

Talvez um dia, sem exemplo ou glória,

Traia os votos, perca-se na história.

Ou quem sabe, devota de um templo sagrado,

Em devaneios perdidos, num sonho enredado.

Assim, o tesouro à janela, em silêncio suspira,

Enquanto a vida, indiferente, por ela gira.