ÚLTIMO CICLO © 2008

Poesia gritante em nome do povo,

Dores imensas atravessam a alma,

Como mártir jovem, ainda novo,

Que suporta a fúria, mantendo a calma.

Dizem ao sujeito que o mundo se perde,

À deriva, sem rumo ou direção,

Não há de ser perfeito ou ereto,

Em IRS ou IVA, sem salvação.

Todos fogem da sombra do diabo,

Essa figura que seduz e confunde,

Mas sabemos, no fundo do fado,

Que ninguém é feito de éter e luz.

Todos pecamos, e assim carregamos,

Os fardos pesados, de ambição e pressa,

Cavamos o futuro onde tropeçamos,

Sedentos de juventude que o tempo apressa.

Feito bandeira de uma nação ferida,

Ergue-se o olhar de quem persiste,

A iluminar, com a alma aquecida,

Os filhos que na vida ainda resistem.

Pequenos rebentos saem do berço,

A gatinhar e tropeçar no chão,

Orientando-se, com o sonho disperso,

Na ilusão dos tostões e da confissão.

Lutamos, em busca de saldo final,

Que ao partir seja justo e correto,

E que nenhuma instituição infernal

Venha cobrar o que é nosso por certo.

Pois até os trocos, na mão cerrada,

Podem servir em banquete de dor,

E mesmo que ao toque sejam nada,

Deixam-nos marcas no vazio e temor.

E assim, ao caminhar por entre muros,

Vamos com a certeza de um saldo inteiro,

Que na luta de vida, entre ganhos e juros,

O que é sentido vale mais que o dinheiro.