UM GRITO EM LIBERDADE © 2008
Dormir tornou-se um recolher obrigatório,
Para que os olhos se fechem em descanso,
Mas as palavras, essas, continuam acordadas em oratório,
Numa espécie de reza miudinha, feita terço, em manso.
Enquanto o corpo repousa, a mente vigia,
Num murmúrio constante, quase ritual,
Onde cada palavra é uma prece, uma melodia,
Que ecoa no silêncio noturno, espiritual.
As palavras deslizam, uma a uma,
Formando correntes de pensamentos soltos,
Que, mesmo na escuridão, se assumem,
Como luzes ténues em caminhos ocultos.
É no recolher da noite que me encontro,
Entre o sono e a vigília, num limiar tênue,
Onde as palavras rezam, como quem conta,
As angústias e esperanças, num sussurro ameno.
Dormir é deixar o corpo à sua sorte,
Mas as palavras, fiéis, não se rendem à morte,
E seguem em oração, tecendo o destino,
Na calma da noite, desenhando o divino.