CARTAS AO DESTINO © 2012

Somos os abutres da nova civilização,

Sempre à espera de uma oportunidade para depenicar,

Rondamos o que sobra das quedas alheias,

Prontos a consumir o que está a desmoronar.

Olhamos de cima, em voo paciente,

Vendo o mundo ferir-se, sangrar,

E na ganância que nos move,

Esperamos o momento de nos saciar.

Não criamos, não nutrimos a vida,

Apenas rondamos a decadência,

E onde houver fragilidade e falha,

Ali faremos a nossa residência.

A nova civilização é feita de sombras,

De olhares atentos à fraqueza humana,

Onde o erro é oportunidade

E o fracasso se transforma em fama.

Somos abutres, silenciosos e frios,

Na espera constante de devorar,

Mas esquecemos que, um dia,

Seremos também o que outros virão buscar.