CARTAS AO DESTINO © 2012

Na savana, os animais cansados

Desistirão das suas presas em jeito de indiferença,

O ciclo da vida perde-se no cansaço,

E a fome torna-se apenas uma presença.

Mas nós, feito matilhas, instintos cruéis,

Tentaremos devorar o próximo,

Na esperança inútil de sobrevivência,

Como se a morte fosse o único propósito.

Em cada olhar, o desespero espreita,

A luta pelo resto que sobra,

Num mundo onde o coração é pedra

E a compaixão se dissolve na obra.

Caçamos sombras, ilusões sem fim,

Na ânsia de alimentar o vazio,

Sem perceber que o que nos devora

É o próprio medo, o próprio desvario.

Na savana, o cansaço traz sabedoria,

E o silêncio do leão, resignado,

É mais nobre do que a nossa fome

Que nos torna, a cada passo, mais isolados.

Sobrevivência? Talvez seja miragem,

Quando devorar é o único norte,

E a matilha que se volta contra si

Já perdeu, faz tempo, a luta contra a morte.